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Na minha roupinha amarela, um coraçãozinho.

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Hoje quem nos narra a história é a Gabriela, a dona da tattoo:


Uma parte da nossa infância foi vivida juntos em Coqueiro Seco, um lugar que guardo com tanto carinho e que nos ofereceu a liberdade de brincar nas ensolaradas ruas de paralelepípedos.

Lembro-me das risadas ecoando, das brincadeiras inocentes no meio da rua, da casa sempre cheia de amigos. Mas a vida nos ensinou, de forma muito dura, que o amor também pode vir acompanhado de dor, mas que, independentemente das circunstâncias, devemos permanecer do lado certo e justo.



Quando nossa vida virou de cabeça para baixo, foi pela coragem do nosso pai que aprendemos a lutar.


O sonho dele finalmente se tornara realidade: ele voltara a morar em sua terra natal. Seriam tempos de paz e muito afeto no lugar que sempre amou. Mas o destino assim não o quis. Na verdade, foi Deus quem tinha outros planos para nós.


Papai não hesitou em arriscar tudo, inclusive a própria vida, por um amigo. A bravura dele, clamando aos quatro ventos por justiça e denunciando abertamente os responsáveis pelo ocorrido - ninguém ousava se posicionar contra o “coronelismo” vil que reinava na cidade, e a força e sabedoria da nossa mãe nos guiaram em tempos de trevas. Eles eram nossos pilares, nosso porto seguro e farol em meio ao caos.


Sair de Coqueiro Seco não foi apenas uma mudança, mas uma reviravolta em nossa história. Fomos forçados a deixar para trás tudo o que amávamos.


Em uma manhã comum, nossos pais nos disseram que iríamos à praia, mas era apenas uma estratégia para nos manter seguros. Lembro-me de estar ansiosa, perguntando a cada instante quando chegaríamos, com a inocência de uma criança que ainda acreditava em finais felizes. E então, já a muitos quilômetros do que até então chamávamos de casa, a verdade despedaçou nossos corações: não iríamos à praia, mas mudaríamos para Goiás.


Assim mesmo, com os trajes de banho no corpo e uma mochilinha com meia dúzia de roupas no porta-malas. Não pudemos levar nosso bichinho de pelúcia favorito, nem nos despedir dos amigos; afinal, ninguém poderia saber que estávamos partindo.

O choro incontido e a insatisfação de uma mudança tão repentina foram inevitáveis. Era um grito de desespero, de crianças que só queriam voltar para o lar e continuar correndo nas ensolaradas ruas de paralelepípedos.

Ali, estávamos salvando nossas vidas, mas o peso da saudade já era insuportável, quase incompreensível para nós, tão pequenos.


O recomeço em São Luís dos Montes Belos foi desafiador, mas juntos enfrentamos tudo. Cada um de nós trouxe sua luz e força, e a dor da separação de um lugar onde éramos tão felizes se transformou em laços mais fortes entre nós.


Hoje, quando olho para trás, meu coração transborda de gratidão a Deus pela mudança, pela nova vida que criamos. Voltamos a Coqueiro Seco com amor, mas sem medo, e a cada reencontro sinto que ainda somos cinco, sempre juntos, mesmo na ausência (tão presente) do nosso pai.


Ele era como o mar: bravura indomável, desafiando as dificuldades da vida como as ondas revoltas, mas também uma calmaria que nos confortava. E mamãe, como o ipê amarelo, florescendo em meio às adversidades, sempre nos colorindo com sua força inabalável e garantindo que tudo ficaria bem.


Deixo aqui, tatuada em minha pele, uma singela homenagem à união e ao amor de nós cinco, representados por nós três.




Frederico, meu irmão mais velho, com sua força e determinação, me inspirou a seguir o mesmo caminho na advocacia. Ele me deu dois sobrinhos maravilhosos, Theo e Noah Frederico, que são como raios de sol em nossas vidas.


Matheus, meu irmão do meio, é o comunicador da família. Com o dom de fazer amigos e espalhar alegria, ele “vende até urubu voando”. É pai da Anna Beatriz e do João Matheus, meus tesouros, que trazem luz e risos aos nossos dias.


E eu, a caçula! A vida me moldou em uma mulher firme e valente, chamada de leoa no trabalho por ser séria e defender cada causa com unhas e dentes até o fim. Mas quem me conhece de perto sabe que sou também um misto delicado de emoção e lágrimas.


Pedi a reprodução de uma foto nossa que refletia a alegria genuína de crianças, para que nunca nos esqueçamos de onde viemos, da nossa essência e dos ensinamentos de nossos pais.


Nós três fazendo macaquices, sorrindo e felizes, sentados em um banco de madeira, simbolizando nossa família materna/base - vô Ozório construiu um banco de madeira que tenho até hoje, representando a simplicidade e a certeza de que encarar a vida com leveza a torna uma doce aventura.


As crianças, como passarinhos livres, cantantes, coloridos e alegres, pousadas nos ombros de seus pais, simbolizam a continuidade desse amor, resiliência e senso de justiça que nos une, fortalece e faz ser quem somos.


Ao fundo, coqueiros em formato de coração demonstram o amor pela terra de papai e, entre eles, cinco pássaros voando para o horizonte, uma singela representação de nossa família-base, alçando voos maiores e sempre buscando a luz.


Na minha roupinha amarela, um coraçãozinho.

E assim, com muito amor, eternizo o que traduz nossa família!

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